Texto publicado em Literatura e Sociedade - N. 40
Este breve ensaio propõe uma leitura crítica livre do romance Essa gente, de Chico Buarque. A obra, lançada em novembro de 2019, apresenta, como marcas distintivas de sua singularidade ficcional o tratamento de fatos praticamente contemporâneos ao tempo de sua escrita, a recuperação de procedimentos estéticos típicos da ficção precedente do autor e alguns recursos narrativos muito específicos. Na contramão da recepção mais comum da obra, que lhe atribui como valor central a documentação crítica da aparência do presente, o ensaio propõe a análise de traços formais característicos do romance que possibilitam perceber que seu valor estético tem mais a ver com a explicitação de movimentos basais da dinâmica histórica e social brasileira. Para isso, são abordados como elementos da obra pregressa de Chico Buarque que comparecem em Essa gente: a condensação, o onirismo desperto, a “identificação desidentificada”, a metalinguagem ativa. Como elementos específicos da obra discutem-se: a violência como mediação primaz de relações entre os personagens, os recortes de classe e o papel do narrador mediador fracassado, a estrutura de diário disfarçado através de fragmentação e multiplicidade de gêneros mimetizados, além do comentário de canções brasileiras.
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