Os textos recolhidos nesta antologia são uma amostra do que escrevi nos últimos anos, desde que lancei, em 2004, meu primeiro livro de poemas. Aqui estão representadas algumas das linhas orientadoras da minha busca pela poesia: o amor, a vida social, a poesia, a política, a fala do povo, o lirismo autorreflexivo, o diálogo com a tradição, entre outras, que cabe ao leitor intuir ou resgatar do conjunto de poemas.
É para mim uma grande satisfação poder reunir os textos e oferecer um pouco de minha poesia a quem lê em italiano. A Itália e o idioma italiano sempre compuseram para mim uma espécie de pátria afetiva, seja pelas origens de minha família, seja pela minha admiração por sua cultura, sua arte e sua literatura. Além disso, no momento que escrevo esta apresentação, tanto a Itália quanto o Brasil passam por momentos difíceis, desde que eclodiu a pandemia do COVID-19, a qual tem ocasionado inúmeras mortes em muitos países, mas que tem feito sofrer de um modo muito cruel a nação italiana. Portanto, este gesto de organizar agora uma antologia bilíngue, não deixa de ser, também, uma singela atitude de solidariedade com o povo italiano, que, de alguma forma, cristaliza-se em poesia no último texto da antologia “O sonho de uma coisa” (“Il sogno di una cosa”), com referência clara ao poeta Pier Paolo Pasolini.
Para o leitor de língua portuguesa, há, ainda, o interesse de que a maior parte dos textos não foi publicada senão nas excelentes antologias Encontros com a poesia do Mundo / Incontri con la poesia del Mondo, ou, de modo disperso, em sítios da Internet e em redes sociais. Creio que agora, lidos conjuntamente, em sequência cronológica, do mais antigo ao mais recente, eles possam ganhar outros significados e iluminarem-se uns aos outros, pois poemas costumas nos servir de lentes para outros poemas.
Entre outras coisas, toda poesia é um desejo de diálogo, uma aposta na capacidade de entendimento do mundo e de interrogação das relações que mantemos conosco, com os outros, com a linguagem, com a realidade, com a transcendência. E através da tradução, amplifica-se essa possibilidade de conversa entre pessoas, entre culturas e entre sociedades. O tradutor literário, portanto, faz acontecer algo decisivo para completar-se uma função essencial da literatura: o aprofundamento e a expansão dos vínculos sociais, por meio da expressão estética.
Agradeço a atenção e a gentileza das queridas amigas professoras Ana Laura dos Reis Correa (Universidade de Brasília) e Vera Lúcia de Oliveira (Universitá degli Studi di Perugia), que comentam aqui o sentido geral dos textos, e das tradutoras Cláudia Valéria Lopes e Margareth de Lourdes Oliveira Nunes, que aceitaram meu convite para colaborar com o projeto. Por fim, e de modo muito especial, agradeço à talentosa e diligente Maristella Petti, sem a qual esta antologia não seria possível.
Alexandre Pilati
março/abril de 2020
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